quarta-feira, 22 de julho de 2009

Entrevista: No Good Reason...

O No Good Reason é uma banda de Portugal que tem uma sonoridade nos moldes de Lifetime/Descendents com letras muito boas. Essa entrevista foi feita há algum tempo pelo Luis Nunca Inverno/Rosa Negra Records (BNU) em 2007, com o pessoal do No Good Reason, mas vale a pena conferir.

1. Ao invés de eu escrever um paragrafo aprensentando a banda, vou começar perguntando: O que é o No Good Reason?

NGR: Os No Good Reason são 5 amigos e 5 pessoas diferentes que se uniram para fazer uma banda dentro da ética do punk/hardcore/DIY e passar uns bons tempos.

2. Vocês são de Almada - Portugal. Parece ser uma tradição/característica do hardcore Português a sonoridade mais melodica/old school com letras bem elaboradas, que não caem tanto nos assuntos usuais do hardcore dos EUA e acho que vocês seguem essa característica. Por outro lado, tem aparecido em Portugal, cada vez mais, uma séria de bandas sem engajamento politico, com musica mais pesada, mas no esquema hardcore por hardcore (estética, orgulho, etc), algumas delas até apoiadas por produtoras, etc... o que vocês acham disso? Como vocês veem a cena Portuguesa hoje?

NGR: Eu vejo o punk-hardcore como essencialmente um espaço livre e acente no DIY. Um contraste com a sociedade. Sendo um espaço controlado por miudos para miudos, se as coisas passarem apenas por questões estéticas e futeis, deixa de haver uma diferença e não passa de mais uma "cultura" juvenil que se define por um estilo de musica e roupa. No entanto, o facto deste espaço livre ser tão mal aproveitado face a todas as coisas que se poderiam fazer (não só musica, mas tambem arte, workshops, spoken words, etc) revela que afinal esta cena não está tão separada da sociedade quanto isso, daí haver bastantes bandas em Portugal que se rotulam hardcore mas que têm um management por detrás, por exemplo. Claro que toda a cena hardcore que se originou nos Estados Unidos e todo o mainstream que se ligou a ele acaba por ter alguma culpa.
Mas, há sempre bandas boas, algumas com as quais "crescemos" a ouvir e outras mais recentes: day of the dead, decreto77, breaking through, punchskulls, suchi rukara, these hands are fists, my rules, worth the fight, barafunda total, albert fish, zootic, new winds, x-acto, last hope, human choice, newt, take a hike entre outras...

3. Na musica We Close Our Eyes, a primeira da demo de voces, voces falam sobre a nossa permissividade, das pessoas do ocidente, em relação aos conflitos atuais no oriente, o que é um fato inegável, poucas são as pessoas que entendem o contexto destes conflitos e acabam consumindo passivamente a visão americana dos mesmos. Acho que é uma tendencia natural sobre fatos que, em principio, parecem estar longe da nossa segurança ocidental. Além de entender, se interar, ter uma compreensão melhor destes fatos, o que vocês acham que nós poderiamos fazer para ser menos permissivos em relação a isso? Para realmente intervir?

NGR: Achamos que é importante e que temos algo a dizer em relação ao que se passa no mundo à nossa volta. Perante uma sociedade adormecida, conformada, fria e a automatizada, queremos que as pessoas se questionem (ou se identifiquem) com as nossas letras. Nessa musica falamos não só dos conflitos actuais, mas de todos os acontecimentos da história que foram acontecendo e derramado sangue a troco de dinheiro ou poder. A história continua e repete-se. A indiferença da parte das pessoas mantem-se. Não pedimos uma revolução, mas se houver uma consciencialização pessoal do que acontece à nossa volta, então aí haverão sempre ferramentas para mudar alguma coisa... A intervenção própriamente dita não é nada mais nada menos do que acções. Muito mais do que palavras, as acções são o nosso manifesto.

4. Como eu disse, as letras de vocês fogem um pouco da vala comum. Já a música Problems, a numero 4 da demo, tem uma tematica mais pessoa, não politica como as outras. Como vocês fazem para escrever as letras? Todos escrevem? Voces discutem elas antes de usar?

NGR: Em no good reason nunca limitámos a mensagem da banda. Somos 5 pessoas e 5 cabeças diferentes, daí não levantarmos concretamente nenhuma bandeira como banda. Todos podemos escrever sobre o que quisermos - claro que assuntos numa vertente mais política levam sempre a uma discussão para haver uma coerência na mensagem face banda e grupo de pessoas. Mas acima de tudo, somos sinceros com o que escrevemos e isso é o mais importante. Achamos que no hardcore há espaço tanto para questões políticas e interventivas como para temáticas mais pessoais... o importante é que os assuntos que levantamos tenham realmente conteudo e importância para nós antes de as passarmos para as outras pessoas.

5. Quando escutei o No Good Reason a primeira vez, me veio logo a cabeça o Lifetime. Quais as influencias de vocês pra construir as musicas ou mesmo para escrever?

NGR: Lifetime musicalmente é sem duvida uma das maiores influências, mas temos outras: X-acto e Sannyasin (tanto musicalmente como líricamente), Good Riddance, Vision, Day of The dead, Black Flag, Minor Threat, as bandas da dischord records/summer revolution ... tanta coisa! Cada um tem as suas preferências, e cada um tenta levar um pouco de si, daquilo que ouve e daquilo que lê e vive para a banda/musica.

6. Ao contrário de outras bandas que buscam uma identificação visual a demo de vocês tem várias artes. A que eu tenho tem uma capa com o simbolo do Black Flag e outra com uma imagem de uma cidade. Eu sei que existem outras. Qual o motivo disso?

NGR: Queriamos ver se havia algum maluquinho que comprasse as capas todas diferentes, mas não resultou. eheh. Não, na verdade nós fizemos várias capas e pedimos a alguns amigos para desenhar outras.. tinhamos tantas que fazia mais sentido usa-las todas em vez de escolher apenas uma. Até o artwork mesmo desenhado no CD (alguns têm só NGR escrito ou assim, mas outros têm desenhos e frases) tambem são diferentes, assim cada pessoa tem a sua cópia personalizada pela banda. Tínhamos pensado antes das demos saírem, vender o cd juntamente com uma folha branca, onde as pessoas que comprassem a demo pudessem desenhar tb a sua "própria capa. No fundo, seria uma maneira de envolver mais as pessoas naquilo que fazemos, mas entretanto essa ideia ficou de lado.

7. Eu sei que alguns membros da banda possuem outros projetos dentro do hardcore/punk. O Braulio, por exemplo, desenvolve art works para algumas bandas (vide Fight for a Change e Day of The Dead) e toca em outra banda chamada Adorno. Falem um pouco sobre esses projetos e como vocês fazem para conciliar eles com o No Good Reason e as ocupações pessoais de cada um escola/trabalho...

NGR: Como somos todos da mesma cidade, sempre foi um bocado fácil conciliar e arranjar tempo para se ensaiar. No entanto, o André agora estuda animação cultural e educação comunitária numa terra chamada Santarem, por isso só podemos ensaiar nos fins de semana que ele está cá. Ele tocou em "Lisis Journey", "Words of Hate" e noutra chamada "Galochas à Chuva", que tinha tudo para ser a melhor banda do mundo, a começar no nome, ahaha. Os outros: O Bráulio estuda design, diverte-se a fazer designs para bandas e toca numa banda chamada Adorno ( www.myspace.com/adornno) com o Diogo, tambem baixista de NGR, que estuda psicologia e é jardineiro nos tempos livres. O João estuda engenharia, anda de skate e dedica-se ao graffity/street art. O Rui para alem de NGR toca em "Decreto 77" e está em fase de negação com o seu problema/vicio com uma bebida chamada Sumol.

8. Pra mim é isso, essa entrevista tinha a intenção de divulgar um pouco no Brasil uma banda que conheci e que para mim se apresentou com uma surpresa muito grata. Agradável e esperta. Eu agradeço pela atenção de vocês e deixo o espaço para vocês dizerem algo que queiram... Obrigado.

NGR: Não há muito mais a dizer sobre NGR, as coisas sempre se foram construindo com gosto e calma, gostamos de fazer as coisas por nós próprios e sermos guiados pela nossa paixao e é isso que nos caracteriza. Tambem alguns concertos, umas gravações e umas poucas edições. Esperemos um dia ir visitar o Brasil e agradecer-te pessoalmente não só por esta entrevista mas tambem por todo o apoio que nos tens dado! Obrigado Luis!

www.myspace.com/nogoodreasonhc

2 comentários:

  1. eu já tinha lido essa entrevista. cara, essa banda tbm é boa viu ?
    portugal sempre com boas bandas. lembro das bandas que o toninho mostrava e sem comentar os zines. Nossa, isso era em 1996 ou 97.
    maikon k
    paginadomauhumor.blogspot.com

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  2. ficou boa a entrevista. A banda também é bem da hora.

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