domingo, 23 de agosto de 2009

Burning Fight: The Nineties Hardcore Revolution In Ethics, Politics, Spirit, And Sound...

Este livro de 500 pags., escrito por Brian Peterson, aborda vários temas, desde política, direito dos animais, straight edge e religião dentro da cena norte americana na década de 90. Possui várias entrevistas com bandas da época...livro altamente recomendável e um ótimo relato da cena daquela época...muitas fotos, memórias e opiniões interessantes. Vale relatar uma passagem do livro na qual me lembrou discussões do passado...discussões do tipo sobre direitos animais e straighedge...me lembro até hoje, eu, meu irmão Marcel, Nils e Igor (estes últimos de CWB) discutindo sobre o seguinte: “se fosse necessário matar alguns animais de laboratório ou não em prol da cura do câncer ou aids, seria isso uma opção a pensar/realizar ou não?”...na época quase todos da cena eram vegans, praticamente todos disseram que não...interessante como as coisas são ou foram. Discussões sobre usar drogas com fins medicinais...isso também foi discutido em algum momento. Mas sobre o livro, o trecho que me fez lembrar de tudo isso foi uma parte da entrevista com Tim MacMahon (Mouthpiece), na qual ele relata sobre o baixista Sean MacGraph que estava com câncer e para amenizar os efeitos da quimioterapia, seu médico recomendava o uso de “maconha medicinal”...e Sean, vegan sxe, estava chateado com a situação e perguntou para o Tim o que ele achava disso tudo, e Tim disse: “se fosse eu na sua situação provavelmente usaria e que o mais importante naquele momento era que ele ficasse vivo”...eu sempre fui contra o uso de drogas medicinais, remédios pra ser mais exato, só em último caso...mas nunca discriminei ninguém por causa disso...é muito fácil falar desse tipo de situação se você não passa ou esta passando por ela...mas o fato que se você, pode e tem condições, porque não fazê-las??? Mas isso quem decide é você e nem por isso você deixara de ser uma pessoa melhor...amadureci muito desde aquela época, de discussões noite afora...tenho amigos que foram e ainda são sxe ou vegans, e indiferente de sua opção de ontem ou de hoje ainda são meus amigos...e isso é o que importa.

www.burningfightbook.com

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Straight Edge como uma cena VS. Straight Edge como um movimento...

Esse texto foi extraído do zine Fúria Cotidiana #1, editado no 1º semestre de 2004 por mim e o Luis do Nunca Inverno...ná época estavámos muito descontentes com a cena e pessoas que conheciamos, ligadas ao punk/hardcore...muito tempo se passou, muitas coisas mudaram, mas algumas coisas ainda permanecem vivas...

"Quando o straight edge começou, no início dos anos 80, não passava de um bando de garotos já cansados do punk e do uso de drogas indo de mão em mão. O punk rock era todo sobre rebelião, mas esses garotos não queriam apenas rebelar-se contra a sociedade, eles tinham uma guerra para lutar dentro de seus próprios quintais. Estavam tentando se revoltar contra seu próprio povo: a cena punk/hardcore. Naquela época o straight edge era visto como alternativa a alternativa. O straight edge progrediu muito desde essa época e muitas atitudes mudaram. Passaram-se anos desde então e parece que perdemos aquela rebelião. Parece que nos declaramos vencedores da guerra contra as drogas no hardcore e que agora a luta acabou. Mas nunca podemos descansar. Uma vez terminada uma luta temos de ir para outra. Straight edge não é apenas abstinência de drogas. Ele é a compreensão de que as drogas tornam você apático. Tornar-se straight edge deveria ser apenas o começo. Quando você está “edge” pode conseguir muitas coisas já feitas, aí você senta a bunda. Este é o novo movimento do straight edge. Quando vou á algum show que é beneficente a alguma coisa, e nenhuma das bandas fala porque gastei um dólar comprando comida pra entrar no show, eu fico deprimido. Quando uma banda esta no palco falando algo que poderia ser visto como útil e todo mundo esta do lado de fora ou em seu pequeno mundo, começo a me perguntar porque elas estão lá? E essa é a questão. Da forma como vejo o straight edge deveria ser um movimento. Significa fazer uma promessa pra você e o resto do mundo. Significa ser drug free o resto da vida e sabendo o porquê. Pessoal ou político, é tudo a mesma coisa. O pessoal é político. As decisões que você toma em sua vida pessoal afetam os outros em suas vidas políticas. O straight edge deveria ser só o começo. Deveria deixar você no caminho da ação positiva. Eu condeno o X pelo que ele representa na cena. Não vou deixar o straight edge ser reduzido a 20 colares ou calças realmente “baggy” ou um grande X gordo na tua mão. Se o straight edge não significar nada além de um estilo ou um status social, então tudo em que acredito e deposito minha fé não passa de uma piada. Um completo desperdício de tempo. Não quero nenhuma parte. Encontro-me desencantado com o straight edge. Ele adormeceu. Tornou-se apenas uma drug free youth crew na estrada para a felicidade superficial e a popularidade. Se não houvesse mais straight edgers, você se manteria fiel as suas convicções? Infelizmente muitos dos “kidz” não podem responder a essa pergunta sem mentir para si mesmo. O straight edge não tem mais nada a ver com rebelião, tem a ver com ajustar-se a ele. O straight edge é um movimento ou apenas um clichê após um outro? Hoje ele é jogado pra você fazer dele o que quiser. Não estou satisfeito com o que tenho. Nós poderíamos ser rebeldes, poderíamos ser um movimento".

Eu retirei esse texto de um zine straight edge nacional editado em 1997, o Action For Life zine, e este texto foi retirado do encarte do 7" "Idle Hands Hold Nothing", da banda Frail, lançado em 1994. E esse texto aí em cima reforça a idéia que a história sempre se repete. A cena straight edge caindo sempre nas mesmas armadilhas. O Frail era uma banda muito boa e o Action For Life um zine muito bom que infelizmente deixou de ser editado como a maioria dos zines. E eu não culpo somente o advento da Internet por esse fato, eu culpo também a apatia que se instalou nos corações do straight edgers, que preenchem os vazios de suas vidas fazendo parte dessa cena que às vezes, mas somente às vezes, dá sinal de vida (admito que estou sendo muito pessimista, mas lançar cd's qualquer rockeiro consegue fazer, e nossa produtividade não deveria se limitar somente a isso). E esse texto inicial (que de certa de forma já é antigo) fala sobre moda e apatia, as mesmas doenças que infectam nossa sociedade ruindo a cultura punk de uma forma que eu não esperava que fosse acontecer. Na realidade o rumo que a cena straight edge tomou tem me deixado muito deprimido, um aglomerado de indivíduos imaturos e que tentam dar razão as suas vidas até o término de seu curso universitário e depois se tornar adultos e crescerem. As coisas deveriam ser como já diz uma letra da banda Highscore: “a cena é um fórum, a música é uma ferramenta”, mas em vez disso temos a cena como uma festa e a música como um mero entretenimento. Aliás eu sempre achei que os shows fossem apenas entretenimento, com certeza eles poderiam ser mais do que estamos acostumados. E o straight edge não deveria ser apenas ter um X nas costas da mão em cada encontro ou entretenimento, straightedge é e deve ser algo que se estende em nossas vidas, principalmente no nosso dia a dia . A forma como conduzimos nossos atos e como não nos deixamos nos contaminar, não apenas por drogas químicas mas as sociais também (preconceitos, homofobia, racismo,etc). Mas em vez disso temos um bando de rockeiros modernos metidos a designers, artistas e fotógrafos, que se prendem a modas que de certa forma tem sido a única coisa produtiva (se é que se pode chamar isso de produtividade). Bem, o que esperar de uma cena que a cada ano, ou mudança de estação, lança uma nova tendência (na realidade copia da cena gringa...não sei quem é mais burro: eles ou nós por copiá-los...com certeza a cópia porque a música é muito pior). Mas quais as modas passadas, lembrando que a do momento são os fotologs, deixe me ver...lembrei: tínhamos o movimento anti-macdonalds, o sexismo na cena, o pro-life e pro-choice, hardlines (urghhh), a polêmica da dança violenta, feminismo e riot girls, veganismo (na época o veganismo era algo realmente forte e hoje o que temos? Sério nunca pensei que fossemos chegar a ponto do veganismo se tornar motivo de piada na boca de rockeiros vegetarianos e ex-vegans...mas o que esperar de um reduto de rockeiros de final de semana senão isso mesmo, uma cena composta por indivíduos imaturos que não sabem com o que estão se metendo. Eu me lembro quando entrei em contato com a cena straight edge, mandei cartas para a S.E.L.F. (Straight Edge Life Frame) e pesquisei sobre o assunto a partir da carta resposta. Esse grupo me passou endereços de zines que poderiam de certa forma me explicar melhor e me ajudar nessa nova etapa da minha vida. Lembro de ter entrado em contato com o pessoal do Punto de Vista Positivo, que até hoje eu acho que foi o melhor zine lançado dentro da cena straight edge brasileira, reforçando minha idéia que os zines sempre tiveram um papel fundamental dentro da cultura hardcore. Tudo bem, existem os sites devido ao advento da Internet. Ótimo, as informações chegam numa velocidade realmente satisfatória, ao passo que isso diminuiu o contato entre as pessoas, sem contar que eu prefiro ler um zine a apenas uma porra de um site...eu acho um zine bem melhor. O fato é que a cena era bem mais produtiva quando entrei em contato com ela, existia mais sinceridade, mais compromisso, convicção, não era perfeita mas eu acreditava que a mesma caminhava para algo totalmente diferente do que eu vejo hoje, um bando de indivíduos que estão apenas em busca de festa e um lugar para demonstrar seus dotes artísticos e suas tatuagens caríssimas, além de outras coisas mais. O fato é que eu sinceramente aos poucos vi a cena cair num abismo...o straight edge se prendeu a modas e coisas que o punk nunca deveriam se render...e o pior é que hoje se vê esses indivíduos desassociando o straight edge do punk, também pra eles tudo não passa de estilo de roupa e penteado. Punk usa moicano e coturno e escuta bandas punks 77; straight edgers usam roupas da veganpride e escutam bandas de old school ou mosh vegan justiceiras... Resumindo caímos nas mesmas armadilhas que deveriam ficar de fora da nossa cultura, cultura essa que deveria ser uma ferramenta para nos ajudar contra determinados padrões culturais/consumistas e todo tipo de meio opressivo, mas infelizmente nos deixamos impressionar por muito, mas muito pouco. Mas tudo bem, amanha é outro dia e nunca é tarde pra consertar nossos erros (Marcio)...

Fúria Cotidiana zine...


Eu e o Luis do Nunca Inverno, uns anos atrás editávamos um zine chamado Fúria Cotidiana, lá por 2004...foram lançada apenas 3 edições...nessas edições constavam textos, entrevistas com bandas e resenhas...conversando com o Luis uns dias atrás resolvi colocar parte desses registros aqui no blog...e pra começar temos o editorial do Fúria Cotidiana #1, que foi escrito por nós dois naquela época...

...claro...escuro...claro...escuro... E essa tem sido a tônica das nossas relações. Alternamos momentos de atividade, vivacidade e consistência com momentos de extrema apatia e estaticidade. Quando pensamos ter dado um passo à frente, vemos que dois ou mais foram dados para trás. Quando pensamos que determinadas discussões e falhas haviam sido banidas para sempre, elas voltam a tona. E é assim que vemos a cena hardcore. Momentos de glória e momentos de derrota. E é assim que novamente deixamos nossas ocupações pessoais de lado e nos voltamos para a atividade. Sem poder determinar a forma de prosseguimento e periodicidade. Sem saber quando vamos nos afogar novamente em apatia. Mas ao menos algo parece certo, estes escritos são produto de determinadas frustrações. Principalmente no que tange as nossas relações...

...afinal este projeto surgiu através de discussões entre amigos insatisfeitos com suas vidas e com a cena hardcore como ela se apresenta nesses últimos dias...palavras de decepção sobre hardcore e straight edge, que tem sido durante alguns anos a razão central de nossas existências. Sentimos falta da convicção, seriedade e maturidade que um dia foi um sentimento forte e comum dentro dessas relações que se desenvolvem dentro do hardcore...não agüentávamos mais a imaturidade que vinha e vem assolando a cena, tanto que nossos textos tentam ter uma abordagem concisa e madura, o que não é muito difícil, tomando como parâmetro a cena atual...descompromissada e alvo fácil das mesmas armadilhas que todos estamos cansados de presenciar nesta sociedade que sempre tentou nos ridicularizar e vender como um produto para jovens a procura de algo para preencher suas vidas... na contramão das razões pelas quais nos envolvemos com o punk/hardcore/straight edge. Se hoje estamos escrevendo um zine, assumindo e vivendo o vegan straight edge é por que queremos algo mais que ser apenas consumistas passivos de produtos revolucionários ou malditos e velhos clichês...dentro ou fora do hardcore...dentro ou fora, hoje para nós isso praticamente é inexistente...somos um reflexo da mesma sociedade que um dia resolvemos lutar contra...os mesmos erros se repetem mas de formas e aparências diferentes (ou não), que no final obtém os mesmos resultados...dividir e conquistar e de alguma forma transformar todos e tudo em produtos ou consumidores em potencial...

...e no intuito de fazer algo mais do que apenas observar, nos voltamos à produtividade. Apesar de amigos há alguns anos, encontrávamos afastados uns dos outros devidos nossas vidas e atividades diárias. E este projeto de uma certa forma retomou e intensificou nossas relações e posicionamentos. Começamos com a timidez e desconfiança que toda pessoa que se propõe a fazer um projeto deste tipo presencia e sente. Mas de repente usando todas as decepções e insatisfação que há muito vinha nos sufocando, este projeto se tornou uma meta e se encaminhou de uma forma que nem mesmos nós esperávamos...

...por mais que tenha uma pequena abrangência dentro da cena, o que é bem comum numa sociedade onde quem lê um livro é considerado como um intelectual, ainda estamos dispostos a dar continuidade, devido ao sentimento de união e satisfação que de certa forma nos tomou durante a realização deste projeto...temos como objetivo (tudo depende de como as coisas vão se suceder depois desta primeira edição) lançar duas edições anuais, afinal temos muitas outras atividades além de tentar fazer do hardcore e o straight edge razão central de nossas vidas...

...estamos cientes que nossas idéias podem ser mal interpretadas, mas o hardcore, segundo nosso ponto de vista, tem sido interpretado e usado de forma errada há algum tempo, então estamos conscientes que muitos com certeza não entenderão...mas sinceramente, nunca tivemos a intenção de fazer parte do hardcore apenas por amizades, aceitação, irmandade confundida com corporativismo ou para ser massa de manobra para ditos intelectuais dentro da cena...fazemos parte do hardcore para tentar, e até então obtivemos algum êxito, fazer alguma diferença em nossas relações diárias ou esporádicas, na forma como atuamos e interpretamos cada situação...este projeto tem então como objetivo reagir a esta situação, através da atividade, causando o autoquestionamento (Marcio & Luis)...

X-Acto - the new child [1997] 7"...

Esse até onde sei foi o último trabalho do X-Acto...depois disso eles montaram a banda Sannyasin, que tinha os mesmo integrantes do X-Acto, mas o Sannyasin tinha uma orientação mais espiritual em suas letras...hehehehe. Esse 7" vem na versão azul, pelo menos a cópia que consegui...conheci essa gravação na época da tour do X-Acto por aqui, através de uma k7 que tinha também as músicas do split com o Ignite...essa k7 foi lançada pra promover a tour dos portugueses pelo Brasil...mas depois de 10 anos consegui o 7"...hahahaha. Esse 7" consta com 4 músicas impecáveis, sendo uma delas a música Dance of Days do Embrace...sem mais comentários.

X-Acto - the new child [1997] 7"...